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Mariza Carpes

Parei pensando em coragem. 

Foi lindíssima a exposição individual de quarenta e cindo anos de produção de Mariza Carpes, “Digo de onde venho”, montada no MARGS e inaugurada em dezembro de 2019 com curadoria de Paula Ramos. Três salas ocupadas com cerca de 60 trabalhos de uma poética singular, desenhos, assemblages e vídeos em uma retrospectiva da produção desta grande artista.

Uma porta ao inconsciente da artista. Percorrer momentos precisos de crescimento, tensionamento, pressão, peso e leveza. De uma coragem nobre, uma postura extremamente elegante e ao mesmo tempo ingênua que abre processos onde a arte é expressão de um amadurecimento da alma, pessoal e intransferível, porém, ao mesmo tempo espelho. Cada tela, cada trabalho, cada objeto ou material, sombra ou delicadeza se apresenta como um presente, pois assim como Mariza acessa do que é constituída, nós também organicamente podemos buscar nossas próprias respostas.

Um tempo antes desta mostra, uma outra porta se abriu, a porta da casa-atelier da artista. Um jantar com alguns amigos, ainda não nos conhecíamos pessoalmente. A admiração imediata e o privilégio de estar neste ambiente, não somente a extensão do ser e amplitude de sua identidade, mas o fato de conhecer a pessoa, a pessoa por trás da obra. E assim, como da forma mais suave observar com clareza o resultado de uma carreira investigativa de representação da subjetividade e adensamentos acerca da origem e do resíduo, do que se compõe e do que liberta. Liberta, pois maturidade é processo e vida e arte são compostas da mesma matéria.

Dos presentes da vida, uma nova exposição, “Flutua, em diálogos ressonantes” uma coletiva de artistas mulheres para galeria Mamute com minha curadoria em março de 2020. Novamente o nome de Mariza Carpes e a proximidade natural de estarmos alinhadas em identificação. A proposição de um novo trabalho. A produção: uma nova tela, uma flor que nasce clara, reluz onipresente em verticalidade ascende ao centro do quadro onde contempla outros elementos que se fazem presente como fragmentos de memórias, histórias e sobreposições em uma imagem ordenada como uma canção de liberdade.

Seria certo falar do poder do feminino, multidirecional, agregador, que a tudo vê, permeia, atravessa e transpassa reinventado. Cada obra de Mariza é um “olhar de frente”, que encara os fatos e se sobrepõe a estes em um caminhar contínuo.

“Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou.
Ensinou a amar a vida e não desistir da luta, recomeçar na derrota, renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos e ser otimista”.

Assim disse Cora Coralina, e a quantas tantas mulheres e suas jornadas ela se referia? Que honra coabitar este espaço-tempo de eterno despertar da artista e me nutrir desse florescer.

Mariza querida, que presente este encontro na vida.

Toda minha admiração.

_______ Paula Bohrer

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